ORELHÃO

ORELHÃO

Tento falar não me ouve

Tento ouvir não fala

Tudo e todos passam

Ninguém para

Ninguém mais ouve

Ninguém mais fala

E ele lá, abandonado

A própria sorte

Vivendo das lembranças de sucesso

Em que todos paravam

Faziam filas

Ouviam-no, falavam a não mais poder

Tocavam-no, faziam cócegas

Em sua coluna exposta

Nele, as vezes colocavam

Todas as suas fichas

E ele paciente ouvia e falava

De tudo e de todos

Os acontecimentos de vidas

Que hoje não tem mais tempo

Para falar ou ouvir

Sem estar em movimento

E o velho orelhão definha

Surdo e mudo

Ninguém mais liga

Agora desfilam as orelhinhas

Smarts pequenininhas

E não saem da linha

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 10/11/2014
Reeditado em 11/11/2014
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