ORELHÃO
ORELHÃO
Tento falar não me ouve
Tento ouvir não fala
Tudo e todos passam
Ninguém para
Ninguém mais ouve
Ninguém mais fala
E ele lá, abandonado
A própria sorte
Vivendo das lembranças de sucesso
Em que todos paravam
Faziam filas
Ouviam-no, falavam a não mais poder
Tocavam-no, faziam cócegas
Em sua coluna exposta
Nele, as vezes colocavam
Todas as suas fichas
E ele paciente ouvia e falava
De tudo e de todos
Os acontecimentos de vidas
Que hoje não tem mais tempo
Para falar ou ouvir
Sem estar em movimento
E o velho orelhão definha
Surdo e mudo
Ninguém mais liga
Agora desfilam as orelhinhas
Smarts pequenininhas
E não saem da linha