EVA ESPACIAL
À frente um grande Sol laranja
E lapidadas estrelas águas-marinhas.
Redonda e enorme Lua branca
E fofas nuvens lilases no dossel alviceleste.
Na minha surrealista tela anil
Voa um falcão-peregrino
Trocando mensagens com um pombo-correio.
Bandeirolas inventivas de Volpi
Agitam-se junto a pipas coloridas
E asas-deltas de verão.
Um avião acrobático espalha fumaça arco-íris.
Um Boeing 787 para no ar:
Turistas clicam suas câmeras digitais.
Não é olhar aluado
Nem demência feliz...
Sou Eva Espacial
Num domingo ensolarado,
Planando e plumando
Acima dos traços
Da noite e do dia,
Da babel tecnológica,
Dos tons em leque
Indo do branco ao negro.
Da janela indiscreta
Que rasgo no céu
Ajusto o binóculo,
Estendo-o o mais que posso,
Colado ao rosto
Pintado de tinta tristeza...
A boca entreaberta, aveludado damasco,
O ar passando entre lábios e narinas,
Acalmando a ansiedade.
Ajusto os olhos, miúdos e úmidos,
Colados às lentes grandes e secas,
Para na sandice - de caótica alegria! -
Descortinar o Éter,
Reiventar Adão
E lhe entregar:
Com a mão direita
A Maçã
Do secreto paraíso,
Com a esquerda
A Rosa Meditativa
De Dali.