ESCANEAMENTO

Desperto e escaneio o céu.

Resquícios de madrugada

Ainda pulsam e nuvens passam rapidamente.

É quando desenhos surgem ao bel prazer da poesia.

Escaneio os tons das horas voláteis e temo acreditar

que vejo o tempo passar.

Quero versejar o imponderável, imprimir minhas intuições...

Registrar o sentido.

Mas são tantas as batutas psicóticas,

que poderiam me alucinar as impressões autênticas

a me culparem de que o tempo na verdade é ilusão.

E não há mais espaço para ilusões.

A palavra perde o sentido no verso

porque a inversão das realidades semânticas

-as que nem todo mundo vê-

Já não permite figurações exatas das rimas.

Versejar já é amalgamar as razões em versos tolos, sem fundamentos.

Sequer ouso escanear as cores que vejo.

É perigoso.

Eu as vejo, as degusto, as toco, as ouço , as sinto...

Porque mesmo poesia morta é insistente em vida.

Mas como ser verso legítimo em meio às verdades ofuscadas?

Quem perdoaria?

Então corro no meu verso branco e temeroso.

Apago as nuanças dos viços, versejo que não existem cores,

Para que nenhum verso incauto possa melindrar as horas alheias

Ao colorir tantas verdades que pulsam sem voz e sem nexo.

Mata-se versos impunemente...pelo vitorioso tempo perdido.

E a poesia permanece algo covarde, manipulada e muda.

Frente às necessidades dos poemas mortos,

Escaneio a alma e volto ao céu das perenes madrugadas

Em busca das alvoradas esquecidas...

Até um Sabiá distraído já alvorece sem perceber...