Agora sou um bicho
Sem cio
Sem lua
Sem epiderme
E quase não mio
Nem arrepio
Nem sinto calafrio
Nem frio
Apenas caminho
Nas noites
Por ruas com restos luxos
Espalhados
Ando pelos muros
Mordendo estrelas
Com meus poemas
Com meus dentes
Cegos
Que quase não enxergam
Mais nada
Agora sou um lixo
Como pedaços de sabonetes
Restos mortais
Desta sociedade ocidental
Mosaica
Onde vale a mais-valia
Onde mais vale o capital
Olho minha imagem perdida
Nos esgotos
Não sou boto
Nem garoto
Nem broto
Apenas um narciso
Levados pelas águas
Escuras
Que vão dilacerando a imagem
Do meu rosto
Um gato tecendo enigmas
Sobre os muros pichados
Andando pelos telhados
De insônias
Chaminés sem sentimentos
Que vão apagando as letras
Das cartas de amores
E vão escrevendo
Com suas fumaças escuras
Versos carbonizados
Na pele do luar
A razão é uma maneira
Da loucura
Falar de si
Coerentemente
A lógica nunca sabe
Explicar
Seus princípios
Mas fala com tanta coerência
Que pensamos
Que está dizendo a verdade...