MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
O segredo do Castelo

 

O charco enfumaçado
Parece o vagante
Suspiro das larvas
Vindas de dentro
Fulmina o absurdo
Caído ao extremo
O que cresce
Ergue mãos
Desesperadas
Despem o lugar
De bendito que foi
Ao lugar do esquecido
De todo tempo
Pervertido
Que no entre vales
Dos montes verdes da colina
Vive o grande Mestre
Que viveu sobre os comuns
Dominava o poder
Dos terrenos
E agora colhe seu veneno
Nada mais do que
Passagem
E sem aragem
Cresce o capim volumoso
Seu colosso
Esconderijo
Perdido nas torres da Era
Gargulas e demônios
Anjos sem asas
Despedaçam sonhos
Tudo que olha p’ra cima
Olha vertigens
Nada tem uma vontade
Nem desejo
Nem o inferno adormece
Na descida
Árvores podres retorcidas
Águas impuras
Nenhum banho pode atender
A cerca imposta do esquecido
É uma cerca vasta
Por todo caminho
O séquito de Dévora
Das ninfas pastoras
Não segue a Ordem
Desobece Lilith
Precisa vingar a falta
Da luz na caverna
Não tem medo
Do que é infinito
Existe um vento no fim do túnel
Que não emana mais
Perfume
Algo descoloriu
Seus jardins
Os fanáticos por um fim
Donos da clausura
Não concebem a bravura
Da fêmea
Que despiu-se de medusa
Vestiu-se da criança
Senhora dos amores
A hiperbórea
Que profere a volúpia
Como deleite entre
Estes senhores
Que o metal forja
As Troianas
E as Raptoras do vale
Aceitam o informe
Há um nefasto
Que mata essências
Destroi pomares
Nossas frutas
Nas delícias da gruta
Onde nos banhamos nuas
Na posse do corpo
Ela deveria estar entre nós
Mas sabia que não seria
Apenas entre nós
O Descido
Foi enganado por Baco
Aqui reina sua vontade
Ele se torna fraco
Absorvido
Torna-se mais humano
Permitido
Dévora tinha um colar
Onde a pedra
Desenhada por Seth
Pertencia a jazida
De Opala
A duas léguas adiante
Do catelo
Que cruza estradas encobertas
Por ervas daninhas
Entre as ervas
Que ela sempre trazia
Havia um segredo
Escondido
Sabíamos no culto
Vertidas de suor
Possuídas pelo calor
Que ela emanava
As Troianas sobem
O deserto úmido
Nas costas pedregosas
Que levam a janela
Onde apenas uma
Pequena luz domina
As Raptoras do vale
Conhecem o odor do medo
preparam a morte
do mudo
mundo que tragou Dévora
no submundo do castelo
o dito pela fala cansada
dos terrenos
ela bebeu um liquido
proibido
e se jogou mártiria
caída nas montanhas
que o limo pinta
um quadro dolorido
faz desta verdade
algo imundo
desvestido da fluência
do espírito que vem dela
o candelábro
das velas derretidas
a sujeira perversa
nas escadas que levam
ao altar do velho
parece que um nunca
viveu sempre aqui
um leito adornado
pra uma vida de recluso
fantasia mulheres
antigas
nas janelas quadros
pintados amarelos
respondem pela
morada das outroras
nenhum sinal
vive nestes resquícios
falidos de vida
há um rastro na poeira
que leva ao parapeito
uma escada caracol
p’ra descida
um calabouço fechado
cadeado estrelado
sem chave
um lugar escuro
apenas um vestido
pendurado
deixa o luto ainda mais
perto
descobrem o velho
dormindo na esteira
de palha do lobo  
erguido a frente
uma tenda de vime
cobre o ancião
e a verdade que buscam
oferecem diamantes
e outras jóias suas
pelo que sabes
se sabe por favor diga
onde ela pulou
se não pulou
porque está escondida
clamam de joelhos
perante um desatino
de olhos perdidos
há um ocular brilhante
toda manhã nascendo
há um barco
que fica na enseada maldita
atado ao recôncavo
levem o que precisam
atravessem o rio
esperem a matutina
perder seu brilho
avistarão a ilha
de uma areia fina e escura
onde a mais clara
está acima
depois dos pinheiros
minha tarde vem muito cedo
o Descido me escuta
Quer desvendar o enredo
Daqui não falo mais
Tenham a sorte dos ventos
Ao voltar
Esqueçam do alento
Velho vingado que viveu
O tempo me suga adentro
O que trouxerem será vingança
Por bem do séquito
Sigam outra herança
Foram ao Desavisado perdido
No revolto rio
Que chega ao mar
Descem no elo perdido
querendo encontrar
Quem foi sua rainha arteira
Das faceiras orgias
sentem uma brisa
que traz o que é fêmina
e não fica escondida
Dévora
Resnasce esplêndida
Flores ao redor
De um circulo lunar
Desenhado por arcos
De raízes
Dançam frenéticas
Sob o luar
O séquito das ninfas
Agora pertence a outro pomar
Vão-se as recônditas
Memórias das tolas
Ficam as glórias
Desertoras que sabem
Que a Ordem não mata
Nem perdoa
Deverão esperar Lilith
Na vigília do silêncio
Pertencer aos livres
É o plano das filhas
Do agouro
Seu tesouro vive por dentro
Tudo que está fora
Cresce fantasias
Seus ventres nunca pariram
Heróis nem reis
Ou rainhas sagradas
Mas as fadas
E as madrinhas aladas
Dos vales
Que dormem os bruscos
E os comuns
Seus principes marginais
Os frutos entre elas
Já fizeram nascer
A harmonia do reino
Que os terrenos
Mal sabem do existir
Entregaram felizes
Infâncias
Que cresceram p’ra esquecê-las.