Ela que também gostava de mim

Ela que também gostava de mim

Há de me perdoar

Quando eu me for.

Carne de porco frita,

Farofa natalina e quiabos

Refogados.

Um viciado em heroína

Fala sobre o meu

Desespero

E o mais notável

É que pareço absolutamente calmo

Exibindo dentes brancos

No inferno.

Não posso ir até a França

Tampouco até o fim da rua.

Eu sou o homem, querida,

Se estou ferido

A culpa não foi de Deus, querida,

A culpa não foi sua.

Papai, estou machucado

Mas não estou sozinho.

Mamãe, estou machucado

Mas não estou sozinho.

Você não foi meu herói

Nem você minha heroína.

Não posso voltar ao útero

Só me resta encolher.

Os bares notam minha ausência,

Mas não as ruas, não os pássaros,

Não os rostos hediondos

No comboio da manhã.

Sinto saudade dos fogos de artificio

Do natal de 91,

Sinto saudade das joaninhas que eu colecionava

Na infância,

Sinto saudade de quando percebi pela primeira

Que iria morrer

E então lia livros com pressa,

Sinto saudade de uma garota que conheci

Quando tinha dezesseis anos,

Sinto saudade de quando ninguém me conhecia

E eu não conhecia ninguém,

Indigente,

Sem ossos quebrados

Como o

Salvador

Morto

Renascido

limpo

Em seu sudário

E a luz era tamanha

Que ninguém

O

Reconhecia.

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 05/11/2014
Reeditado em 05/11/2014
Código do texto: T5023819
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