Poema condescendente e torto
Dorme, ó vagabundo, que a tua hora não se apressa
rejeita o pão e vomita a sesta
que a tua boca voraz devorou
Tranquilo dormita na ponta dos dedos
esfrega os joelhos, se joga nas pedras
para não mais se erguer
És fraco, pequeno e a hora não se apressa
a tua sesta é a tua dor
o teu rancor é tua festa
Tranquilo se afasta mas não se levanta
não percebas, não se afobe
meu caro amigo fraco
Esta noite ela será tua, toda
revestida em agonia
em dor reversa e agonia profunda
A palavra dói como doem as pontas dos dedos
já que de belo não tem nada
o alvorecer da morte
(e nem estas palavras)
Ainda bem que não sou tu
és o que rejeitei, aflito
nem existes nem nada dirás
Um poeta feio e fraco, inadmirável
cheio de furúnculos
e gatos e ratos e outros animais