Poema condescendente e torto

Dorme, ó vagabundo, que a tua hora não se apressa

rejeita o pão e vomita a sesta

que a tua boca voraz devorou

Tranquilo dormita na ponta dos dedos

esfrega os joelhos, se joga nas pedras

para não mais se erguer

És fraco, pequeno e a hora não se apressa

a tua sesta é a tua dor

o teu rancor é tua festa

Tranquilo se afasta mas não se levanta

não percebas, não se afobe

meu caro amigo fraco

Esta noite ela será tua, toda

revestida em agonia

em dor reversa e agonia profunda

A palavra dói como doem as pontas dos dedos

já que de belo não tem nada

o alvorecer da morte

(e nem estas palavras)

Ainda bem que não sou tu

és o que rejeitei, aflito

nem existes nem nada dirás

Um poeta feio e fraco, inadmirável

cheio de furúnculos

e gatos e ratos e outros animais

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 05/11/2014
Código do texto: T5023758
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