Meus Cem Anos de Devaneios
Eu já não tenho mais cem anos,
eu adormeço em uma nuvem,
as borboletas fazem planos
de darem asas as vertigens.
Eu já não vivo dentro dos espelhos,
eu voo em céus de purpurina,
as águias morrem nas montanhas,
as almas planam como lamparinas.
Eu já não canto o canto apoteótico,
eu amanheço em sol de diamante,
os devaneios engolem barcos
que navegaram em outros sonhos.
Eu já não sou de letras destras,
eu pinto as noites de aquarela,
a lua vigia o amor das estrelas
que dançam dentro dos olhos dela.
Eu já não morro em uma prosa,
eu reverbero em uma poesia,
o mar tem ondas cor-de-rosa
que banham as flores da matilha.
Eu já não uso mais relógios,
eu derramo o cálice de vinho,
o candelabro é lume bruxuleante,
eu recomeço aquilo que foi antes.