MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
O advento da Única
 
 Incensários dourados
Queimam a mirra agri-doce
Trazida pelo velho
Do castelo
Onde a raíz
Cresce na pedra
Entre as heras
Testemunhas do ontem
Da bendita água
Derramada do monte
Vem do horizonte
Onde a lua morre
As Eternas com suas
Velas escuras
Acendem os olhos
Dos Ouvidores
Servos de Seth
Odores incandescentes
As lágrimas ceifadoras
Vagam pelos corredores
Prenunciam
A chegada do Descido
Oculares azuis
Brilham no escuro
O manto tem vestes douradas
O anel do terreno
No cabelo trançado
Terá outro destino
Deverá ser retirado
Nos desejos
Atendidos
O encontro permitido
Que  a Ordem prepara
P’ra tecer as alegorias
Do antro
Onde a seda do oriente
Cairá por tenras teias
Pousará desperta
Sua presa faminta
Por fugir e ser outra
Terá o sangue invadido
Num veneno nada delicado
o filho das lamentações
onde as trevas se calam
p’ra ouvir
seu canto feroz
da ira dos Deuses
requerer a dádiva
ao mortal da terra
onde reinam infernos
se desejam os céus
deverão acordar
o sol da manhã
A Única tem a permissão
De entrar
Seu corpo treme
A cada passo no escuro
Apenas olhos de lûmina
Avistam
Sua pele morena
Pelo bronze do claustro
lábios roseados
querem ser lábios
visitados
por um cetro
que cospe fogo
do calor de dragões
entre as ninfas do séquito
de Dévora
todas sentidas
pelo sonho que ela realiza
e não deseja
sofrem corações de luto
por sua musa
que agora “vive muda”
em algum lugar
Unhas de diamante
As mãos terríveis e fortes
Convidam a menina
Fêmea-mulher
A se curvar a sua frente
Despe-a de todo medo
Traz  toda loucura
Quer  aquela aventura
E toda raiva que sentiu
Da mentira come
a falsidade da donzela
Prometida
Vingadas no seu corpo
Que dentro do corpo
dela
Serão seus fluídos
Sementes
Dotados do grão
Que é mestre das guerras
E nada tolera
Dos enganos
Artimanhas de tolo
 reino humano
A Ordem fecha as portas
O velho do castelo
Deverá deixar suas ervas
E se permitir voltar
As Eternas com ramos
Da oliva-negra
Entre as pernas
Cantam hinos poemas
De Ovídio Nasão
“Sinta a mulher que os deleites
De Vênus ressoam nos abismos
Do seu ser;
E para os dois amantes
Seja igual prazer”

Sentem as vibrações
Correntes
Os Ouvidores
Senhores calados
Observam
O aroma delicado
Agora é perfume
Do ambiente
Permite o que sentem
Ver o que queriam ver
A estrela se indo
O nascente devagar
Navega sobre as águas
Do lago
O antro não tem mais
Do que uma flor
Deixada sobre o leito
Há um preceito de morte
O deserto tem um cheiro
De estranhamento
Passado ausente
Ninguém por perto
Exceto a Única
Ferida nas entranhas
Retiram o linho
Povoado das lamúrias
Sentidas
As feridas do prazer
De uma noite entre estrelas
caindo
As troianas
E as raptoras dos vales
A levarão de volta aos seus
O que repousa se abrindo
No seu ventre
É querido
Por toda Ordem
E será bem vindo
Lilith permite que a levem
Mas saibam
Que navegam
Sobre um solo fértil
O Terminador
Não cega sua vontade
Nossa idade
Será prematura
Se houver outra aventura
O inferno reinará
Apenas sozinho
Tragam a magia do velho
Hermita da colina
Que desce
Deixando na floresta
Sua antiga bondade
Dos alados
Deixem um cerro entrecortado
No carvalho
Recolham as folhas
Da alfazema do mar
Antes do orvalho
Pra limpeza do lar
Onde a Única
Deverá repousar
Plantem as magnólias
E os lírios de inverno
Sachês de cravo
No espaldar do leito
Da nova rainha dos terrenos.