GOTAS SECAS

Choveu,

Mas nem toda seca responde às águas.

Porque há algo tão desidratado

Que nem ouso dizer que possa ser a esperança.

Ainda que fosse,

Decerto que eu seria incompreendida...

Posto que (por decreto!) sempre há algo para se acreditar.

Até os passarinhos voltaram cuidadosos

Agora mesmo ao cair da tarde,

Depois que a chuva chorou.

Percebo que piam desconfiados...

E eu me dissocio em versos

Como se numa psicose distraída

Eu voltasse a acreditar,

Ao menos na força da poesia

Para que o óbvio pontuasse olhos.

Nada do que vejo me convence.

Palavras e vitórias me parecem enganos baratos

De alto custo...algo quiçá impagável.

E na mixórdia do dia-a- dia

Alguém deveras patético

Profere um discurso

Para que um outro alguém

-mais patético ainda!"

Acredite em soluções...

Eu prefiro a poesia seca e concreta

Invisível e transparente.

Que dói nos ossos a transfixar a pele...

E que, por isso, nunca engana ninguém.