Eco Hostel

Do meu corpo em repouso na cadeira grande,

pela manhã, minha mente girava curiosa,

do destino verso ou prosa das palavras de um grego,

despejadas a granel, no infinito branco do papel.

Ele escrevia por horas, a caneta dançava à Ravel.

Da sacada minúscula do hostel, o Rio de Janeiro,

era insignificante fração, da beleza tanta, do inteiro.

Meus olhos só viam lá em baixo a pressa de quem nunca olha pra cima,

da rua São Clemente que rima, com meu coração dormente, que lastima.

Esquecer um amor em Botafogo era fundamental

mas cheirava a fracasso essa ideia tal,

melhor me ater com amigos novos,

que não estão a saber mas são curiosos,

dos olhos estranhos entre as beliches,

dos idiomas que nem cabem no ouvido,

dos sotaques, dos ruídos.

Enquanto portenhas discutem seu passeio,

ou o valor do peso e do banheiro sem asseio,

permanecia meu corpo entre elas alheio,

minha mente sequer tinha ido ao Rio de Janeiro.

Uma belo-horizontina, como só elas quebram barreiras,

pegou minha atenção com todo seu jeito mineiro,

me contou de Roma, me traçou roteiros...

tínhamos sacada e cerveja e, próximo a nós, entre folhas sobre a mesa,

o grego escorria sua odisseia na ponta da caneta.

* da minha estadia no Eco Hostel em Botafogo, Rio de Janeiro, em janeiro de 2012

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 02/11/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T5020393
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