MARÉ BAIXA
Trago um grito renitente
num silêncio que arrepia
e apesar de comovente
todos fingem não notar,
se a cantiga não entoa
que nos valha a rebeldia
tudo em volta é covardia
por isso insisto em cantar.
Onde reina a indiferença
predomina a hipocrisia,
tudo em volta é ninharia
sempre o forte a dominar,
as cortinas de tristeza
não se abrem pra alegria,
sofre o fraco à revelia
mas um dia há de passar.
E o pau que dá em Maria
em Pedro e José
na burguesia quero ver dar.
Cantoria e poesia
Nessa terra há de brotar,
quero ouvir rezando terço
quem nunca foi de rezar,
quero ver pagar promessas
quem nos fez ajoelhar.
O pau que dá na ralé
Na burguesia quero ver dar.
Quem come o que não plantou
sem colher nem semear,
quando chegar nossa vez
catador vai empunhar,
vai plantar pro seu sustento,
vendo o outro descansar,
a mão que hoje causa danos
nos campos vai calejar.
As grades que aprisionam
Abrirão pra libertar,
quem lê sorrindo a sentença
condenado há de chorar,
os livros serão as armas
todo mundo a empunhar,
seremos todos guerreiros
nova cantiga a ensaiar.
E o pau que dá em Maria
em Pedro e José
na burguesia quero ver dar.
Cantoria e poesia
Nessa terra há de brotar
quero ouvir rezando terço
quem nunca foi de rezar,
quero ver pagar promessas
quem nos fez ajoelhar.
O pau que dá na ralé
Na burguesia quero ver dar.
Só a fé serve de alento
nas barbas da tirania,
a esperança definhando
insiste em não se entregar,
se a viola diz que sim,
que o canto tem valia,
vou preparando o refrão
pra em breve a gente cantar.
Quem tira do que não tem
sem em troca nada dar
abusa da força bruta
pra com força governar,
vai exterminando sonhos
de quem só pode esperar,
vai pagar por seus pecados,
quando o gigante acordar.
O pau que dá em Maria
em Pedro e José
na burguesia quero ver dar.
Cantoria e poesia
Nessa terra há de brotar
quero ouvir rezando terço
quem nunca foi de rezar,
quero ver pagar promessas
quem nos fez ajoelhar.
O pau que dá na ralé
Na burguesia quero ver dar.
Saulo Campos - Itabira MG