POEMAS RECENTES

ALVORADA DO LOGRADO

Meus heróis, agora, são vilões

Fontes de luz presas no esgoto

De suas ganâncias desmedidas

Bandeiras rasgadas, encardidas

Fui traído, roubado, esquecido

Toda velha história foi levada

Em seu lugar, nódoas dolorosas

De um triste quadro que não pintei

Mortos que do inferno salvei

Preferem servir a um falso rei

Desgraça se alastra ao meu redor

Como fantasia perfumada

Mesmo aquele sabor da vingança

Não traz a doçura desejada

É como se fosse obrigação

Ou vício de uma vida estragada

Vivo me conservo em outras vias

Ainda procurando o eldorado

Conheço gente tão diferente

Vislumbro a canção do sol nascente

OUÇA-ME

Dois dedos de prosa, seu moço

Eu quero poder lhe contar

Do sol, da chuva e do medo

Do jeito insistente de amar

Dos erros e acertos profanos

Do céu estrelado de julho

Das doses de scotch sorvidas

Num Rio repleto de entulho

Eu quero falar de mim mesmo

Dos sonhos perdidos, roubados

Das lutas travadas, inglórias

Também dos sucessos galgados

É muito importante pra mim

Me dê atenção, por favor

Eu sei que você está com pressa

Mas pare pra ouvir minha dor

FLOR DA VINGANÇA

O verde à beira da estrada

Rompendo o asfalto inerte

Avança, ignora o braseiro

Da pista negra, esturricada

Infiltra-se bem sorrateiro

Parece vingança pensada

Cobrando a cruel desmatança

Rebenta, destrói traiçoeiro

A chuva é sua aliada

Um mar de crateras se forma

Estorvo atrasando a chegada

Provoca acidentes e morte

O verde sorrindo mais verde

Alheio ao sangue e a dor

Tão frágil, porém muito forte

Até comemora com flor