MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
Dévora
 
 
As frívolas distantes
De um deserto
Que reinava no Aliém
De qualquer jardim
Onde deveria haver flores
Escaldas ferventes
Perto da torre azul
Pedras roubadas
Que agora reinam
Figuras do repouso
Ficam aladas
No perfume suave
Que venta por entre
Tudo que faz do bosque
Nada daquilo que é
Havia fé
E um vilão maldoso
Havia doentes
E mártires sobre rochas
Há no lugar
As lembranças
E alguns ossos
Passos quietos
Não despertam passado
O caminho antes
Observa os andarilhos
Os nascidos daquela terra
Exalam raiva e posse
Querem o desejo
Da arteira de vênus
Hospedeira da volúpia
Que ninguém sente
A frieza que sua excelência
Silência
O velho soldado
Já não se ocupava
Do cuidado
Vagava sozinho pelo vale
Sangrava esperando
O fim de tudo
Deixava rastros
Sabidos da sombra dela
Aquela que possuiu
Um Deus
Se o Deus não viu
Sua vontade era outra
A outra com mais vontade
Se abria em entranhas
Famintas
Antes do que fria
O hermitão do monte
Depois da colina
Que não guarda rancores
Conhece os sabores
Das frutas já servidas
Lhe deu abrigo p’ra fome
Quis saber o nome
Das aventuras
E dos sonhos que teve
Ela conteve
Sua face desnuda e pálida
Não se viu confusa
Seus olhos ventos
Expulsam águias
o medo agora
era o segredo que deixava
corria no verso
escrito pelo velho
nada disse de sua novela
desceu as escuras
preferiu pastar
entre aquelas
que ninguém procura
Dévora dormiu no castelo
do velho do cajado
de ferro
olhos abertos
bem vinda ao lar
o doce recanto
pertence ao encanto
das sobras
a um candelábro de ouro
e um sofá perto do quadro
 pintado aquarelas
do tempo servil
almofadas de seda
ainda nobres
te encobres do linho
camurça verde
o frio não tarda vir
sei dos covardes
e das promessas do casulo
meu sono povoa
estas teias do antigo
existe uma eternidade aqui
o Descido havia visto
o brilho ofuscado
das janelas abertas
por entre heras
cortinas crescidas
Seth conhece o todo
Do mundo permitido
O protegido imortal
Só quer ser fonte
Do segredo que vai nascer
As Mortas impuseram
Vida que não era você
Baco reina nas orgias
Dos Terrenos
A Única se consumia sozinha
Teves o Descido
Depois do que alucina
Se transforma menina
És o que quer
Foi antes a escolhida
Descidida a não ser
Obrigada
Preferiu ser livre
Lhe entrego a chave
Que leva a entrada
dos  Mestres do Caos
Se querem teu corpo
Sofrido pela vontade
Entre as ninfas
Serão eles juízes deste fim
A Ordem do Ventre
Pedirá que a expulsem
Não pelo que buscas
Mas pelo que ofuscas
Do que deveria ser
O logos do templo
O Descido não quer
A vingança de Seth
Se mantén recolhido
A espera da Única
Que viverá sobre as sombras
Até que as cores
Lancem perfume novo
Sobre a relva
Dévora quebra os vitrais
Do velho castelo
Cai no desfiladeiro
Que abaixo
 guarda águas
as mágoas do ouvidor mágico
se tornam o trágico
desespero
pedaços do que é tempo
espalhados no chão
restos mortais
de sangue
imortal fêmea dos amantes
que rouba sonhos
se purifica de tudo
no Aliém entre as pedras
nada deixou-se falar
a manhã amanhecia
calada de verdades...