CADEIRA CATIVA
Na Nau da Alma dos Poetas
Quero ser a navegante antiga
E a passageira de primeira viagem,
A que se guarda taciturna na cabina
E a que se expõe gaiteira no convés.
Quero me abandonar aos poemas sem desvelo,
Deixar que me redefinam as feições do rosto,
Que a melodia das sílabas brinde meus ouvidos,
Que as estrofes se espalhem sobre meus cabelos,
Que pousem nos meus olhos e me subjuguem os sentidos.
Quero devanear entre imagens feitas letras,
Fotografadas na retina de corações garimpeiros,
Fantasiar paisagens que não vi e cenas que não vivi,
Invejar as musas que geraram versos,
Amar os vates que os conceberam.
Quero fazer o contraponto dos ritmos e rimas,
Dos versos brancos e (des)encadeados,
Dos haicais, rondós, sonetos, redondilhas,
Ser o alaúde, a flauta, a lira, o acordeão, o violino
Na partitura de poéticas trilhas.
Quero ser a cantora, a atriz, a bailarina,
A florista, o lente, o menino, a costureira,
Ser a plateia, a amante, a diletante,
As mãos, as vozes e as lágrimas
Que ovacionam os versos
E aclamam os poetas.
A intérprete de todo sentimento.
Venha, poesia!
Mescle o real e a fantasia.
Seja a cadeira cativa dos meus dias.
imagem: google