Carinho vegetal
Euna Britto de Oliveira
Cheguei em casa com um pedacinho de jardim nas mãos,
De jardim dos outros...
Era um furto tão miúdo
Que nem me apercebera da leveza da pena,
Mas era um furto.
Uma muda a mando de um gosto
Pelas plantas pendentes,
Essas que caem do alto dos muros
Soltando florzinhas...
As desse dia eram amarelas.
Junto, havia uma outra planta
Cujas folhas se envermelham
Se expostas ao sol
E se dá bem fora e dentro de casa.
Pra desencargo de consciência,
A planta furtada não vingou.
Frescura!
Escrúpulo!
Planta é de Deus
E Deus não é meu primo, é meu Pai!
Umas galhinhas,
Sempre poderei tirar
Para fazer render o verde!...
Já a violeta é minha,
Ganhei de presente, a violeta africana.
Apresso-me em molhar os vasos.
O moço da flora me explicou tudo direitinho:
Gosta de lugar claro, com iliuminação indireta.
Não se podem molhar as folhas
Nem ficar água no pratinho.
Molhar de preferência pela manhã,
Se possível pela mesma pessoa,
Para não alterar o tratamento.
Há quem use água morna...
Já coloquei água para mornar
Na pequenina chaleira de esmalte cor-de-vinho.
Adivinho que flores vão nascer,
Minha violeta africana!...
Água morna para a violeta,
Como se fosse pra lavar seus pés...
Carinho.