RETALHOS JUNTADOS

A modista de outros tempos

Abandonou tesouras e agulhas.

Os retalhos juntados no baú de tantos anos

Unem-se em lembranças,

Que os finos dedos de longas unhas alinhavaram.

Não risca, não cria e não mais veste modelos,

Há apenas as sedas desfiadas,

Esgarçadas pelo tempo, nos retalhos de vida,

Que ela insiste em juntar em uma peça.

Foram-se todos,

A mesa marcada pelas carretilhas é o que restou,

Marcas são caminhos diversos, para infinitas direções.

O piso agora é limpo de fiapos de linhas,

dedal foi guardado em caixinha bordada.

Senta-se no quintal, (extremamente limpo quintal)

Não apenas sozinha, mas solitária.

Em torno, belas flores circundam seus pensamentos,

Coloridas e dançantes flores,

Como dançantes e coloridos eram os vestidos

Enfeitando o entra e sai da oficina de costura.

Senta-se ela com os olhos pregados no tempo

E, vez por outra, emite um sorriso lacrimoso,

Não sei se para as flores do estampado quintal

Ou para o passarinho no alto da cumeeira,

Alheio à enorme solidão do lugar.

Dalva Molina Mansano

23:00

26.10.2014

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 27/10/2014
Reeditado em 27/10/2014
Código do texto: T5012984
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