CRESCENDO NOS 70'

Naqueles dias

corria veloz

para alcançar o vento.

Despertava sonhando com bola.

Pipas fazendo arco-íris

eu caçando-as se avoadas

pelo simples prazer

do desafio.

Lutando com os punhos

se preciso fosse

pelo respeito maior

ser livre em escolher caminhos.

Naqueles dias nem

sem o sol ou chuva eram incômodos

como se cascos nos pés tivesse

nus alados me conduziam.

Era como aprendiz de guerreiro

desafiando a rua e suas leis.

Cantava sem medo ou malícia

refrões de cantigas ou maluco beleza.

Dançava como homem ou lobisomem.

Naqueles dias sonhava com princesa

musas de poetinha mudo.

Amigas que se tornaram irmãs

que me ensinaram a ler o mundo

sem nada pedir

amei-as tanto as carrego aqui

dentro de mim

no lado mais doce de minha alma.

Naqueles dias uma voz me acompanhava

me chamava estridente

um punhal auditivo

de dizendo a todo tempo o que fazer

aonde ir, como ser.

Me protegia do mundo com toda garra

como ainda o faz.

Meu amigo-rival

irmão desafio

sempre esteve lá

me ensinando a dividir

meu querer em nosso.

Naqueles dias ainda havia

um protagonista da minha história

que usava farda engomada

era o herói da infância

suas espadas, suas botas, suas chuteiras

seus óculos Rayban, seus quepes,

seus jalecos, suas máscaras, seus tubos de ensaio,

suas medalhas, seus diplomas, sua inteligência,

sua criatividade, seu bom senso, seu equilíbrio,

sua imponência diante do mundo,

sua onipresença em minha vida...

Naqueles dias tudo isso era só meu...

Naqueles dias eu já sabia...

...que jamais seria tão feliz.