Vida interior

Meu lugar preferido

de retiro

(para onde vou, de vez em quando,

para fugir do mundo)

é dentro

de mim,

no mais profundo

do meu ser.

É escuro

e silencioso,

com poltronas confortáveis

e um abajur.

Lá não há pressões,

cobranças,

modelos a seguir,

metas a alcançar

– nada disso.

Para lá me dirijo sempre que o mundo

me cansa,

para me fortalecer,

me livrar do excesso

de peso,

das máscaras,

e limpar o sangue

das feridas.

Não vou sozinho:

Saramago me acompanhou três vezes.

Dele ganhei

um novo olhar

sobre o mundo.

Clarice já é de casa,

vai entrando sem cerimônia,

tranquila,

mas sempre atenta

– sabe até distinguir nuances na escuridão.

Dostoiévski é convidado de honra

quando me perco na multidão

e não sei quem sou

nem para onde vou.

Com ele me desprendo do mundo,

alço voo,

dou piruetas no ar

e finalmente me encontro.

Hermann Hesse é luz na escuridão.

Com ele vejo pássaros, borboletas, riachos e flores.

Meu retiro é também lugar

para cuspir marimbondos,

descarregar mágoas,

vingar

dores

infligidas

– desabafar.

É onde, muitas vezes,

escrevo

e me liberto

do que

não

quero

para

mim.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 18/10/2014
Código do texto: T5003631
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