Vida interior
Meu lugar preferido
de retiro
(para onde vou, de vez em quando,
para fugir do mundo)
é dentro
de mim,
no mais profundo
do meu ser.
É escuro
e silencioso,
com poltronas confortáveis
e um abajur.
Lá não há pressões,
cobranças,
modelos a seguir,
metas a alcançar
– nada disso.
Para lá me dirijo sempre que o mundo
me cansa,
para me fortalecer,
me livrar do excesso
de peso,
das máscaras,
e limpar o sangue
das feridas.
Não vou sozinho:
Saramago me acompanhou três vezes.
Dele ganhei
um novo olhar
sobre o mundo.
Clarice já é de casa,
vai entrando sem cerimônia,
tranquila,
mas sempre atenta
– sabe até distinguir nuances na escuridão.
Dostoiévski é convidado de honra
quando me perco na multidão
e não sei quem sou
nem para onde vou.
Com ele me desprendo do mundo,
alço voo,
dou piruetas no ar
e finalmente me encontro.
Hermann Hesse é luz na escuridão.
Com ele vejo pássaros, borboletas, riachos e flores.
Meu retiro é também lugar
para cuspir marimbondos,
descarregar mágoas,
vingar
dores
infligidas
– desabafar.
É onde, muitas vezes,
escrevo
e me liberto
do que
não
quero
para
mim.