NAS PERCEPÇÕES INERTES
 
 
o riso singelo da gata
que olha
quem mira de certo
no deserto que fica
fina película
dissimulada
discipula esquisita
desperta parece
algum perigo
nua vestida
 n’um felino desperto
observa outro enredo
no colo da fêmea
abraça um segredo
 há alguém pintado
por trás da foto
agora suspeito
 ganha seus olhos
 será seus olhos amados nele
o desamparo
persegue o fugitivo
que informa as cenas
há uma intriga combinada
com ela
o faro felino agudo
persegue o encanto
que via
desafia ligeiro sua saída
arranha seu rosto
outra foto vazia
o quadro não está pendurado
a um porquê
da figura nele pintado
suas tintas espalhadas
misturam passos
mais largos que o seu
seu amigo no parapeito
um efeito contrário
do que quer
um sobretudo pendurado
se torna pele de urso
na mulher
que agora avança
destoa se entregar
a quem persegue
apenas sua gênese
também felina
a menina descalça
que o ovário abortado
deixou vingar nascida
se tornou mulher
o que ele quis da foto
ela não quis do morto
tão querido
seu amigo preferiu
perseguir sua sina
ela volta menina
deita em prosa chorada
quer um gole
do amargo desamparo
que a prende
num castelo de quarto
vendida a outros
que pouco sabem
do sentido que se perde
O retrato na moldura
Simples de madeira
Talhada
Trabalhada por ela
No esmero ressentido
Encontra sempre
Alguém partindo
Ofende quem sorrindo
Pede aos olhos
Não derramam mais saudade.