A Dançarina no Escuro

Havia uns meninos empinando pipa

na rua de casa ao anoitecer,

e ficaram ali indiferentes ao cair da noite.

No meio da rua, no meio das calçadas.

Eles empinavam o nariz e fitavam

a dançarina frágil de papel que se perdia no escuro.

Haviam dois em cima do muro,

haviam três ao lado da escada,

havia nada além do diálogo mudo

de tanto que se concentravam.

Os meninos não tinham mais casa.

Nem fome nem nome já eram lembrados.

Tinham somente o medo que extravasa

de perderem seu ponto, de cortarem seus laços.

E eis que algo os força a correr desesperados

É a dança que descompassa no lenço negro

Ainda é visível ao longe o desassossego

A dançarina que cai e rodopia sem pressa

já entre estrelas que só os meninos enxergam

Linha tênue no teto de ébano

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 13/10/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T4998073
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