A Dançarina no Escuro
Havia uns meninos empinando pipa
na rua de casa ao anoitecer,
e ficaram ali indiferentes ao cair da noite.
No meio da rua, no meio das calçadas.
Eles empinavam o nariz e fitavam
a dançarina frágil de papel que se perdia no escuro.
Haviam dois em cima do muro,
haviam três ao lado da escada,
havia nada além do diálogo mudo
de tanto que se concentravam.
Os meninos não tinham mais casa.
Nem fome nem nome já eram lembrados.
Tinham somente o medo que extravasa
de perderem seu ponto, de cortarem seus laços.
E eis que algo os força a correr desesperados
É a dança que descompassa no lenço negro
Ainda é visível ao longe o desassossego
A dançarina que cai e rodopia sem pressa
já entre estrelas que só os meninos enxergam
Linha tênue no teto de ébano