* Gnomos e Memórias
Hoje amanheci invenções
abri gavetas, arcas
descortinei memórias
reinventei minhas histórias.
Trouxe pra sala uma velha arca
- de Noé? – quem sabe?
Bonecas, bola de meia, pião,
e panelinhas de barro
( brincadeiras de cozinhado).
E cada coisa ia me trazendo vida.
A peteca, a biloca azul,
a boiada de ossos.
Sem cordão, o pião colorido ainda gira
análogo ao bambolê
Os cata_ventos da vida.
Ciranda, cirandinha...
Retirada a poeira
reconheço a arca com cheiros
de saudade, de infância, de avó
e casa da fazenda.
Bolos, café, sonhos...
Quem quer pirulito?
Biscoito de nata, cocada e algodão doce?
Bailarinas e cachimbos de açúcar que derretem na boca?
Ah! A brancura do alfinim
sempre me lembraram carneiros no céu.
Hoje amanheci histórias
de fadas, monstros e duendes.
Um capitão, um príncipe, me vieram de presente,
Figurinhas amiúde e um cenário pronto.
João e Maria, bruxas, gnomos, Rapunzel.
Hobin Hood, Zorro no seu corcel
Hoje me fiz Peter Pan ,
recuso-me a deixar a Terra do Nunca.
Ainda posso ser fada, borboleta, até o grilo falante
Navegar com piratas e salvar princesas.
Hoje quero visitar o Sitio do Picapau Amarelo
conversar com a Emília.
me embalar nas histórias da vovó Benta,
comer bolinhos de chuva da tia Anastácia.
Consultar a sabedoria do Visconde de Sabugosa
ir ao casamento da Narizinho, no fundo do mar.
Hoje amanheci carrossel
No sobe e desce dos cavalinhos de pau.
De vez em quando, viro a ampulheta do tempo
E burlo o absurdo da verdade.
A fantasia abrevia a dor .
Os castelos ainda me habitam
e moro lá onde a poesia me acolhe.
Hoje a fantasia é o meu dia criança.
Fátima Mota – Primavera 2014