Caleidoscópio

São minhas mãos que te alisam os cabelos, os pelos do teu braço
que roça no meu e me enlaça de véu e fumaça.
Sou eu quem desembaraça teus nós e retira teus cravos,
afasta tuas penas, abre tuas asas e varre tuas queixas,
como uma gueixa preparo meu colo prá que possas pousar.
Eu te dou um ninho e um céu prá voar,
e te acalanto os meses, te conto os dias, teus feriados
te mostro as cruzes no calendário e danço contigo em agosto,
me arranho em teu rosto, em teu queixo
e amoleço desleixo sabor alcaçuz, raiz forte, anis.
Te sopro as cores do meu arco íris, um cílio, um segredo,
na ponta dos dedos te toco no peito, no fio do corte, cicatriz.
Sou eu que te faço passos descalços na pele dos ventos
te invento um caminho de signos, flor de algodão, flor de lis,
e te deixo vestígios na palma da mão.
Sou eu que te vejo caleidoscópio de luzes
girando alto, azul turquesa no teu asfalto
as minhas estrelas jogadas no chão.


(imagem: foto de Eric Kellerman)