CONFUSA
Lembra quando eu disse que poderíamos mudar tudo,
que nada poderia levar as árvores que plantávamos,
e que não ia chover?
Então,
eu não tenho mais todas essas certezas.
Não tenho nenhuma certeza.
Acho tudo vazio e indigno de mim,
inclusive ter certeza é indigno.
Conhecer é desgastante,
saber é enfadonho.
Quem sabe?
Pra que sabe?
O que sabe?
Em tempos de preâmbulos,
onde as pessoas procuram em que se fixar,
ou querem se desprender de tudo,
se esvaziar,
fica dito que nada é tão valioso quanto parece.
Temo que ao invés de falar,
sejamos apenas orientados a concordar,
ou mais que isso sejamos forçados a concordar.
Esvaziar-se é bem mais que mandar embora,
é deixar ir embora.
Nunca sobra nada quando nos esvaziamos.
E eu estou tentando me esvaziar.
E eu falei que não é nada disso,
temos que saber calar o que não deve ser dito.
Mas a verdade é que eu nunca soube a verdade.
Não posso dizer se alguma coisa do que eu vi até hoje é a verdade.
Só ficou pra mim uma certeza:
eu ainda não vi o quê sempre quis.