DESEJAR
muitos desejos existem
e habitam na eternidade
de dois abismos
que se confrontam com as realidades...
realidades opostas infinitamente,
tão fortes, tão presentes, tão alucinadas
que é impossível a posição
ou qualquer possibilidade de decisão...
dois mundos moram em mim:
o externo e o interno,
o real e o sonho,
a razão e a emoção,
o conceito e o sem conceito...
e os desejos navegam pelos dois mundos
nunca satisfeito, nunca saciado
e a explosão implode em mim
como uma ferida que virou gangrena...
o desejo fala muito mais alto
que qualquer comedimento existente,
mas a razão grita muito mais alto
do que a batida de um coração...
e meus olhos viram máquina fotográfica
na fotografia da realidade...
captando, absorvendo, introjetando...
minhas mãos não alcançam...
sonhei mais que podia,
sonhei mais que devia
e agora não há mais chances,
não há como voltar...
voltar a viver numa realidade
que não tem nada de emocional
já que a razão é precisa
e sufoca os desejos latentes...
parem de rir! calem o riso!
minha dor é presente na girândola
nefasta e impertinente
no confronto fatal...
o desejo de desejar
o nada, o abismo, o vazio...
o lupanar da emoção
no delito da sedução...
a fascinação é meu carma...
meu delito, o sonho...
porque no atalho que procuro
já sonhei tudo o que podia aguentar...