AMOR no TEMPO do CRIME

A aurora muge

tocada na púbis

pela fome dos indigentes

Oh! Criminalidade

Oh! Narcotráfico, oh!

a aurora

indiferente ao norte

matriculada na inutilidade

da força do sul

limita-se a colorir o chafariz

para o banho do povo das pontes

quando cães sem dono

chegam da aventura noturna

testemunhas das fraturas nos trópicos

O terceiro-mundo não tem religião

anjos urbanos bebem o sangue das massas

nos cravos enlameados das romarias

sem deus certo

Ah! o amor não tem endereço

o amor não socorre a quem ama

como viver o peso embriagante

das metrópoles, amortalhado

no abandono do amor?

Como receber o amor

no tempo do crime?

Caminhantes macambúzios amam a solidão

nos jardins coloridos das avenidas

alheios às delícias do neon

O mundo não gira como entendemos

os significados

os símbolos signos

não constam

o que voga não é o amor recebido

é o que poderia ter e não houve

o que voga

é o não esquecido

o que voga

fica

ora veja

não há mocinho

só há bandido

no amor

Ainda assim

entre crimes perfeitos

e o ilícito dominante

vou erguer do som

uma estátua de amor

o meu amor

para que ao menos seja

o meu amor, amor