ODISSEIA DOS MISERÁVEIS
O crepúsculo da luz/
Descia ao encontro da agonia/
Que assolava o peito/
Cativo do negro/
Arrancado a força dos seios maternos/
Da virgem África/
Ainda sem juízo/
Em navios martírios/
Verdadeiras urnas funerárias/
Forjadas no inferno/
Nos termos de qualquer insanidade humana/
Para sob os desígnios/
Da sordidez e da perfídia/
Da ignorância alheia/
Em terras estrangeiras/
Força-lhes das mãos a alma/
A lavra da terra estrangeira/
Por noites de lamurias/
Prantos e saudades se assemelhavam/
Ao cais de um porto/
Que muitas vezes combalido ao desespero/
Confidenciavam e amasiava-se com a fuga/
Fazendo o espírito referendar mais a morte/
Do que a vida/
Visto que as feridas morais/
De um velho império/
Como um câncer cultivava impiedosamente a injustiça/
Por tempos/
Na insanidade das duras penas/
Impostas a centenas/
De um povo/
Jovens ou velhos abandonavam sonhos e convicções/
Para despirem – se dos grilhões/
Que calavam os seus sorrisos/
Dos chicotes que domavam as suas forças/
Quebrando-lhes os seus ossos/
Suas vontades e cultura em lágrimas de sangue/
Para por ordem nas nefastas horas de agonia/
Assim/
Quando a noite amiga nascia/
Lá no cume do horizonte/
Em aflição o olhar inquieto/
Mergulhava firme/
Nas trevas caladas da mata/
Que teimavam em esconder/
Do luar ao fugitivo sem pátria/
Enquanto as dores o consumiam/
Quieta a carne do corpo/
A perseverança da alma/
Moldando-lhes o amanhã na esperança/
Que um dia/
Haveriam de ver a liberdade/
Harmonizar-se com a República/
Para tornar prática a existência da Democracia/