QUANDO O OLHO MAREJAR
São Francisco, São Francisco,
vai chorando tuas mágoas
tuas nascentes secando,
mas que se há de fazer,
se o homem vai desmatando
e pondo fogo em tudo,
juro não vou ficar mudo
grito que arrebento o peito,
mas quero ver no teu leito
muita água ainda correr.
Quero ver-te a abrir caminho
matando a sede e a fome,
caudaloso, renitente,
mesmo contrariando o homem.
A ganância fraudulenta
nunca há de te vencer,
fauna e flora à ribeirinha
vão dar de sobreviver.
Quero navegar risonho
observando as carrancas,
as lavadeiras cantando
muito ainda hei de escutar,
quero seguir o teu curso
sonhando que dá no mar.
Vou içar as minhas velas
quando o olho marejar.
Saulo Campos - Itabira MG