Vou Pra Rua
Por carlos Sena
Vou pra rua
ver se ainda anda sozinha a esperança
ou se ela se cansa em cada esquina
despudorada e manca...
Vou pra rua
dar a cara a bofete
mascar da vida a seiva
e da boca o chiclete do beijo do amado.
Vou pra rua
que há selva de pedra concreta, armada
e cheia de violência...
Demência humana que não faz da vida o fruto
mas a rama
de uma trama dolorida embutida de prazer...
Vou pra rua.
Dentro de casa há sossego de sobra
que a selva ignora e nos dá medo.
Degredo de afeto
desafetos gestos que alimenta guetos,
Vou pra rua
despudorada e nua...
Vou ser do mundo uma vaga
e da vaga o lume que pode a vida clarear...
Clareia em pleno dia uma estrela:
Vou pra rua vê-la
vou pra lua sê-la...
A cara da rua despudorada e nua
atenua
efetua o desejo do coração amar
pois amarga é a vida ensimesmada e só.
Vou pra rua.
Ser o "A" da amora
ser o "H" da hora
ser o "D" do dia
e do monastério Ave Maria...
Ser da música a clave de Sol
ser do sol a foto síntese
que fecunda o mundo na manjedoura...
Vou pra rua...
Encontrar rapaz e rapariga;
mãos sem figa
vãos e valas sem escuridão;
encontrar o encanto
e no canto do meio fio
varrer o ranço da indiferença,
o fastio que a cola deixa nas crianças...
Pela crença para a rua vou.
Sem ofensa
sem choro
sem vela
vou pra rua vê-la
oh, saudosa esperança.