ANULADO
Dos poetas que conheço,
o melhor jamais escreveu um verso que fosse.
Esqueceu a arte de encantar-se,
guardou a alegria que, de tão escondida,
jamais a reencontrou.
Feições embrutecidas,
do carinho anulado às vésperas de ser feliz.
Depositou versos sonhados no ocaso,
- os últimos que conseguira -
quando a vida entardeceu.
Sem possibilidade de aurora,
na sangria urgente do sol, que se pôs e não voltou.
Quebrou o chapéu na testa,
pôs os olhos no chão, poetizou a tristeza
eternamente cravada em passos errantes.
Agora, na dureza da terra, faz leiras profundas
e enterra esperanças, - mistura de amor e pesar -
em rimas desencontradas, sepulta as lembranças.
Dalva Molina Mansano
04.10.2014
23:58