Janeiro
Todo janeiro é igual.
Estendido nos rabiscos dos planos,
é a época escolhida para plantar sonhos
e devorar velhas esperanças.
É o aperto do gatilho, ilusão do novo,
Tosse de pedidos a esmo, é começo de janeiro.
É água no céu, na boca, no jornal,
é coisa do tempo o temporal.
Mato crescendo onde dá, entre os entulhos de janeiro
As estátuas na praia, bronzeadas,
rósea carne a envolver o coração,
Presságio do carnaval e estagnação
É dilúvio que vem de repente,
Em beijos lascivos com o asfalto quente.
E sobe um indisfarçável cheiro de janeiro.
Janeiro, janeiro, de boas novas nos acenos
Janeiro, devia se estender para o ano inteiro.