caro leitor
(esse texto se deu na ocasião surreal em que eu virei livro e, não contente, escrevi uma poesia de introdução a ele[ou a mim]. aí está):
cuidado!
tudo o que você ler
poderá ser usado contra mim
e você
nada que está escrito aí
é novo
qualquer coisa pode ser encontrada
num pé de jabuticaba
ou num raio de sol que atravessa a janela
às 8h40
e decora a parede
não me venha com muita expectativa
a maior parte do livro
está em branco: é autobiográfica
e todo o restante já escrito nele
é variável [a página 3 pode ser
a página 5
dependendo
de onde você
lê]
em certas partes,
as palavras são vulcões,
transbordando todo o magma pulsante
do presente
em outras,
apenas borrões,
transmitindo a sujeira da rotina
dos dias futuros
no final
alguém dirá: "então não há nada que preste! não vou levá-lo"
e
é aí que se dá
o engano
a grande moral da história
é essa: não há
o livro é o que nós somos
não é possível consumi-lo
[a lógica capitalista
não o mantém]
e espero que você,caro leitor,
não seja mau educado a ponto de
negar sua existência.