GAVIÕES E PASSARINHOS
Há na vida, para elém dos caminhos e atalhos, dois tipos de animais:
os passarinhos e os gaviões. Passarinho, bicho delicado, nascido para
os céus. Mas de tão frágil é sempre podado pelas mãos humanas e
engaiolado em sua prisão. Cresce por trás das grades e vê o mundo em
sua finitute e pequenez. Aprende a cantar... Mas seu canto é triste
porque prisioneiro das adivinhações... Encarcerado na possibilidade do
SE... Chega um dia e ele consegue fugir... Alça vôo pelos céus e
jamais retorna à sua gaiola... Mas se esquece da sua liberdade... Não
aprendeu a voar... Se perde, se machuca, se sufoca com a imensidão...
Não tem confiança, segurança... Morre por não ter sido ensinado a ser
livre, a usar sua liberdade... No entanto, o gavião nasce livre... Ele
é preparado, adestrado para o vôo... Ele percorre mundos, horizontes,
infinitudes... É altivo, tem olhos de lince... Vai longe... Entrra nos
oceanos profundos... E sempre volta ao seu local de origem... Ele sabe
que sua liberdade foi concedida em um ato de legítima confiança e que
sua fidelidade também foi concedida com a mesma crença... Liberdade e
fidelidade em um jogo de cumplicidade.... Sempre retorna e pousa nas
mãos daquele que o criou, lhe deu vida por livre e espontânea vontade.
Ele se concede porque sabe que nada nem ninguém o protegerá, o
conhecerá... Seu Mestre é seu porto seguro que lhe deu a liberdade
para que ele conhecesse o mundo e soubesse das infinitas
possibilidades... E o gavião reconhece e se entrega na mão de quem o
esculpiu, o moldeou e lhe concedeu a liberdade... E é aí, em meio a
essa liberdade, que consiste sua submissão. Não feita de prisão, de
subjugo, de pressão... A submissão livre e solta, concedida pela
confiança, pelo respeito e pela cumplicidade...