LUTA
Quando nascemos, surgimos como seres alados. Olhamos o mundo com olhos
encantados. Uma flor é especial assim como cada ser humano é único.
Vamos crescendo e nos imbuindo de conhecimentos e cultura. Nossos
olhos começam a ficarem baços, nebulosos. Temos que fazer escolhas que
condigam com o ideal social se quisermos ser aceitos. Vamos nos
transformando em camelos reprimidos, sufocados, intimistas,
violentados pela moral que massacra a nossa essência. Um camelo que
quer satisfazer as expectativas da humanidade. Caminhamos e nos
deparamos com atalhos que nos chamam e nos mostram outros horizontes.
O camelo abre os olhos e de repente começa a surgir o leão. A segunda
metamorfose começa a acontecer. O grito preso na garganta começa a se
soltar. Os desejos e aquilo que somos começam a ressurgir potentes,
poderosos. Os atalhos nos fazem redescobrir nossa essência e não
queremos mais satisfazer projeções terceiras, mas a vontade do que
realmente somos. É a luta ferrenha entre o camelo e o leão que se
debatem para saber quem será o vencedor. E nessa luta surge novamente
a criança, a fusão desses dois lutadores. Ela compreende que para
emergirmos à luz outra vez é necessário primeiro que mergulhemos na
escuridão. É necessário que saibamos que somos o que somos,
independente do que querem que sejamos. E ela olha o mundo novamente
encantada, como se tudo fosse único, fosse agora, fosse mágico.
Primeiro titubeante, mas, aos poucos, segura e firme, porque com a
certeza de única e preciosa.