A VOZ DOS IPÊS
DO S.O.S DAS ÁRVORES DE SAMPA:
I
Jazemos no duro asfalto
Da primavera sisuda!
O susto, o vil sobressalto
Da sina que nos imputa...
II
...A motosserra perene
Que assola nosso solo- cidade,
Raízes nos tombam urgentes
Em nome da mobilidade!
III
Nós Somos a frágil florada
Viemos para purificar...
A seca da ida invernada
A falta de água a minar...
IV
...Pelas vertentes dos lagos
Dos rios, do mananciais!
Nós somos o tapete florado
Ao cinza e concreto invernais.
V
Tombamos à luz do silêncio
Daqueles que dizem cuidar...
Só somos os IPês em lamento
Que afloram, mas nos querem matar!
VI
Tombadas somos o inconsciente
Do tudo que nunca se viu...
Gritamos pelo tudo corrente
De Sampa e também do Brasil!
VII
Amputam nossos sedentos abraços
De nós, há sequer compaixão
Depois de estações de descaso
Em flores tombamos no chão.
VIII
Nós somos a vida emergente
Que queda na calçada febril
Doença que nunca se assente:
Um ecossistema hostil!
IX
O sabiá costumeiro...
Da rima de Gonçalves Dias
Não tem mais o mesmo gorjeio
Perdeu o habitat e a alegria...
X
Nós somos os Ipês machucados
E representamos o Brasil...
Em triste destino traçado
Tombamos em solo tão vil.
XI
Nas praças abandonadas,
Gritamos nossas amputações
Trazemos nas folhas ressecadas
A vida para as demais gerações...
XII
O nosso grito de S.O.S
Ecoa... não queremos morrer...
Que todos nos ajudem em prece:
Que os Ipês possamos reflorescer...