SANGRAMENTO
Sinto meus poros abrindo;
minhas veias estufando;
minhas artérias vibrando...
Um líquido escorrendo pelo corpo...
Fecho meus olhos para não ver
e abro meu coração para sentir
o fluido que escorre pela epiderme
que se arrepia com a maresia...
Meu coração sente a sua cor,
sente a espessura, o cheiro,
a repulsa que atrai no prazer da frieza...
Vermelha é a cor,
espessa é a textura,
agridoce é o cheiro...
Sangue que leva minha vida...
Ele segue teus passos,
segue teu aroma, segue teu desejo,
segue teu prazer, segue tuas mãos
que prendem as minhas nas algemas do teu coração...
Me deixo levar, arrastada, subjugada
porque não tenho mais ar que não o teu...
Meu oxigênio é a tua boca que suga
minha alma,minha essência do que sou...
Não! Não mais sou! Apenas sangramento,
apenas carne viva, apenas uma sombra
da tua vida, do teu corpo, dos teus pés
que pisam no meu orgulho de ser nada...
Nada para ser tudo dentro de ti,
sentir o coração parar, sentir o sopro,
o ar que me faz ressuscitar para a dor
e o prazer que me faz viva...
Morro para o mundo para nascer para ti e nada mais importa a não ser tua vida...
Dou-me a ti com todas as amarras
que pretende me prender e me libertar...
Tua prisão me liberta, me solta,
me faz voar e sobrevoar por mundos,
oceanos, céus e infernos nunca
antes pisados por corações humanos...
Sangro a cada poro, a cada reeentrância
desse corpo que não é mais nada
a não ser um objeto para o seu prazer...
Que me dá a vida e me dá a morte...
Amo esse sangue! Amo o vermelho!
É a tua cor! A cor do teu domínio sobre mim...
E te dou minha vida e te dou meu sangue...
Te dou a minha liberdade para que me prendas...
Me ajoelho a teus pés e me curvo a ti...
Faça-me seu objeto de prazer, de escárnio,
de humilhação, de dor e de mágoa...
Só não esqueça de soprar dentro de mim...
Soprar tua vida para que eu possa renascer
das cinzas e voar ao teu encontro...
Meu oxigênio, meu sofrimento, minha alegria...
Sangramento de mim para ti...