Do Pântano

Num pântano carnal, e tanta delicadeza!

A quente tigresa, de repente, uma santa!

Pobre animal, se descobre preso à presa!...

pelo não-sensual, indefeso, se encanta.

No meio da lama, uma flor que tem perfume;

cheio de estrume, sente um jardim na cama;

do seu baixo fedor, o odor chega ao cume;

cheiro pigmeu que só cresceu, inda não ama.

Do fruto do amor, o encanto é semente

quando o olhar regador vem molhar o chão;

mas tanto quer abrir os olhos do coração

que (mesmo sem sentir), na recordação, já sente

numa irrigação que vê a mulher ausente

brotando, fertilmente, na vidente visão.

24/09/2014

Torre Três (R P)
Enviado por Torre Três (R P) em 27/09/2014
Reeditado em 11/12/2015
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