Do Pântano
Num pântano carnal, e tanta delicadeza!
A quente tigresa, de repente, uma santa!
Pobre animal, se descobre preso à presa!...
pelo não-sensual, indefeso, se encanta.
No meio da lama, uma flor que tem perfume;
cheio de estrume, sente um jardim na cama;
do seu baixo fedor, o odor chega ao cume;
cheiro pigmeu que só cresceu, inda não ama.
Do fruto do amor, o encanto é semente
quando o olhar regador vem molhar o chão;
mas tanto quer abrir os olhos do coração
que (mesmo sem sentir), na recordação, já sente
numa irrigação que vê a mulher ausente
brotando, fertilmente, na vidente visão.
24/09/2014