Assim, meio down
 
Acordei assim, meio down.
Por favor, não abram janelas,
Cubram espelhos com flanelas,
Afastem pensamentos maus.
 
Para montar guarda comigo,
Junto do meu corpo no chão,
Deixem vir deitar o meu cão.
E façam que venha um amigo.
 
Carteiro, não me traga cartas...
Não me perguntem de propostas,
Pois não saberei as respostas;
Nem mesmo sei o que me falta.
 
Sinto o fel do choro na boca,
As lágrimas meus olhos turvam.
Frágil, minha espinha se curva,
E a voz, de cansada, sai rouca.
                           
Escondam todas as giletes
E o terrível punhal cigano;
Não cometam falsos enganos,
Tranquem o gás e o toalete.
 
Longe os remédios perigosos
E também venenos de rato,
Capazes de matar de fato,
Findando os dias tediosos.
 
Dentre as mulheres que eu mais quis,
Chamem quem viverá comigo
O amor jamais definitivo,
Mas intenso até a raiz.
 
Peçam aos monges de um coral
Que, com espírito magnânimo,
Entoem cantos gregorianos.
Hoje estou assim, meio down.


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N. do A. – Na ilustração, Homem Velho com as Mãos na Cabeça de Vincent Van Gogh (Holanda, 1853 - França, 1890).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 26/09/2014
Reeditado em 09/07/2021
Código do texto: T4976793
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