VERDADES
Quem prega a verdade deveria ser morto! Porque simplesmente não há verdades. Não é que a minha não verdade seja uma verdade. Não! Não prego verdade porque não creio em metafísicas, em radicalismos, em conceitos que não possam ser destruídos e substituídos por outros... A minha metafísica é a Paixão... Só na Paixão é permitido o radicalismo... Não esse radicalismo que sua verdade e vontade têm que permanecer... Mas o radicalismo da entrega total, sem freios ou contra-freios, sem pudores, sem exteriores, sem comprometimento... Cumplicidade! Muita cumplicidade na entrega ampla, total e irrestrita à Paixão... No resto, nada vale nada, absolutamente nada... A Paixão é o nervo que move minha existência, que levanta a poeira dos meus pés dilacerando minha carne num frêmito alucinado de emoção sem respaldo em coisa alguma que não seja a de sentir... Seja lá o que for! Sentir é primordial! E mergulhar no mais fundo abismo que se puder no sentimento de sentir sentindo toda a sedução que fascina a carne com o olhar do coração... É preciso sonhar, é preciso desejar... Mas é preciso também realizar, porque “todo pensamento que não gera ação, envenena a alma”... É preciso não morrer de sede em frente ao mar e nem morrer de fome em frente ao banquete... É necessário se dar, sem virtudes, sem morais, sem verdades absolutas que não sejam o sentir... Porque o sentido é que vive, é que percebe, é que sente... O resto é razão, é convenção, é cultura, é nada! Os homens estão morrendo e as suas verdades não podem ajuda-los... Chega de tantas verdades perfeitas, atemporais, inquestionáveis... Elas sufocam e matam toda a emoção... O homem não sente; ele pensa... Os pensamentos são tolos, porque definem, racionalizam... Todas as matemáticas deveriam acabar... Para que serve a matemática na Paixão? O fogo que incendeia o peito é sentido visceralmente à revelia de qualquer razão... Chega de máscaras, chega de conhecimentos, chega de raciocínios, chega de culturas, chega de verdades... Agora é a vez dos sentidos, do corpo com sua carne, das veias, das tripas, do coração, dos desejos, das fascinações e das seduções...
É só paixão, é só entrega, é só sentimento... Mais nada... É o homem pelo homem... É o corpo se dando ao corpo... É carne saciando carne... É vida vivendo a vida fascinada pela entrega e seduzida pelo mentir... O homem deveria fazer tudo a despeito de todas as conseqüências... Talvez fosse feliz... Não sei, porque também não creio em felicidade plena... O vôo da liberdade deveria ser permitido a todos... O sabor da paixão deveria ser lícito a qualquer andarilho do atalho e do caminho também... Não deveríamos ir a lugar algum... Deveríamos permanecer e sentir... Sentir mais do que poderíamos agüentar e estilhaçar todas as razões que ainda teimam em arder... A verdade... Cada um tem a sua e pena que não seja movida pela emoção... Não importa a verdade de ninguém e nem a minha tão pouca... Porque só entendo a verdade através da paixão, da metamorfose do sentimento no momento já, no agora sem passados que não voltam e nem futuros que não sei... Mas apenas uma andarilha do desejo que me devasta e me dilacera na sedução máxima e maior que eu mesma... Paixão de sentir que estamos vivos e que sobrevivemos à razão... A paixão de me sentir e de te sentir... A paixão de sentir tudo que me bate à porta... Dizer sim ao destino seja ele qual for... Sentir o sangue se derramar... Anemia de amor; leucemia de paixão; overdose de tesão; vício de sedução; mania de emoção...
É o lupanar da carne na essência do coração...