FOLHA BRANCA

Tenho uma folha branca na minha frente... Intocável pelas palavras humanas... É uma folha branca... Paz... Minha missão é penetra-la com a tinta das palavras que um dia serão caladas e se perderão no ar do esquecimento... A olho... A acaricio... Enamoro-me dela... A folha branca será seduzida pela verdade do silêncio de um grito que move a montanha inescalável do esforço humano de atingir a eternidade... Com palavras que não dizem nada e escorrem da caneta manchando de sangue a virgindade do não saber... Porque se eu apenas olhasse para a folha branca ela seria minha e eu seria dela numa cumplicidade e compreensão mútua sem a intervenção do humano social... Nós diríamos coisas que só o coração sabe sentir e nos amaríamos no silêncio despudorado de uma união complexa e indevassável da maresia que jorra as espumas da fascinação... Nada diríamos e tudo saberíamos, porque nos completaríamos... Folha branca... Mais branca que a minha alma que vagueia pelos horizontes a procura do arco-íris do sonho que me leve a voar a procura do abrigo de um peito com a morada no amor... Um pássaro que voa e pousa na folha branca, com asas abertas na pousada humana capaz da mais louca e prodigiosa entrega de saber que É e que sente o hoje que foi ontem e será amanhã...

Uma folha branca... Branca de tudo... Branca de alma... Branca de carne... Branca de coração... Branca de sedução... Branca de emoção... Uma folha branca que entra pelos orifícios hipotéticos daquilo que denominamos humano... Sem palavras e sem inquietações... Pronta para a entrega fascinante e torturante de um vendaval mais forte que o próprio desejo que despedaça a carne numa vontade inconfessável da procura... Um vendaval perverso porque metamorfoseia a própria máscara humana na sua infinita complexidade, absurdidade e poliedridade...

Uma folha branca para ter paz... Paz de ser; paz de sentir; paz de se dar; paz de encontrar o próprio amor que se perde nas esquinas bifurcadas da vida... Paz de amar o próprio amar da dor e da felicidade com a certeza de que se encontrou o horizonte indefinido da definição do que somos...

Uma folha branca...

carline
Enviado por carline em 24/09/2014
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