TRAÇADO
Há muitos caminhos e atalhos traçados... A serem traçados... Escolhe
quem quer... Quem puder... Como quiser... A estrada está a vista e as
mãos são hábeis tanto para construírem como para destruírem... Como
escolher a estrada? Cada um de nós tem o seu caminho, tem o seu
destino... Não há possibilidades de fugir nem traçar outro caminho...
Não adianta fugir porque o que tiver de ser sempre será... Os pés se
arrastam para frente deixando rastros na estrada e levantando a poeira
no coração... A cada passada, um sofrimento... A cada sofrimento, uma
paixão... A cada paixão, um aprendizado... A cada aprendizado, a
maturidade... A cada maturidade, o crescimento... A cada crescimento,
uma metamorfose... A cada metamorfose, a dor...A cada dor, o vazio...
A cada vazio, o infinito... A cada infinito, o nada... A cada nada, o
tudo... A cada tudo, o centro... A cada centro, a eternidade... A cada
eternidade, o encontro com o Eu... Sofrer dói! Mas é necessário que
soframos até o limite máximo das nossas forças para que possamos
sentir que existe vida em nós e nos enconttrarmos através da
metamorfose... Sofrimento e paixão são entregas totais e fatais assim
como o veneno que nos entorpece e nos penetra aos poucos... Nada é
fácil; tudo é espinho, mas que pode ser transformado em flor e que
deve ser desabrochado... Um punhal com mira certeira que vai nos
cortando e nos devastando na descoberta de quem somos... O eterno e
efêmero do ser sem perguntas, sem respostas no mar agitado pelo
sentimento onipotente de ser impotente... A estrada é real e tem que
ser traçada... Custe o que custar... Doa a quem doer... Do destino
ninguém escapa por mais que se tente, por mais que se queira...
Ninguém pode sofrer no lugar do outro... O sofrimento abre estrada e
nos ensina às custas do dilaceramento do corte do sangue, do suor a
viver o que somos, aceitar o que somos, a compreender o que são... O
sofrimento é perverso e quer nos possuir... A cada um de nós,
individualmente... ninguém é isento do sofrimento, porque a paixão
penetra fundo... Deixa vazios, deixa abismos, deixa cicatrizes. Um
pedaço de nós é arrancado nessa onda de maremoto que nos despedaça...
Mas temos que prosseguir sempre, árduamente... prosseguir sangrando,
mas prosseguir, porque a esperança existe e sempre nos sorri... A
força interior é mais forte que o abismo e nos levanta na tentativa
louca de continuar em frente... Seja como for, sempre... A estrada tem
que ser construída... e não pode ser erguida de mãos cruzadas e pés
juntos... A estrada só se torna plena se regada com sangue, com o
nosso sangue. Sangue de metamorfose, sangue de dor, sangue de vida...
Da nossa vida, tão perversa, mas tão dionisiacamente bela pela
caminhada do aprendizado do que seja cada um de nós no infinito da
eternidade... No infinito da liberdade...