CARNE
A carne me fascina e me seduz... A carne me excita... Seus contornos,
seus odores, suas fraquezas, suas tonalidades, suas espessuras, seus
suores... A carne me excita assim exposta à luz do dia com ferros
rangindo na sucção monstruosa das bocas que se espremem umas contra as
outras nas reentrâncias carnais... Uma posta de carne... Suculenta...
sanguínea... Colocar na boca... degustá-la... Com vontade e com fome
famintamente na saliva do gozo... Espremer os músculos, sentir as
gorduras no sebo das entranhas e chupar o sangue linfático do prazer
da comunhão... A carne me seduz com seus movimentos de entrega na faca
que rasga a sensualidade da prova... O suor escorrendo pela pele que
se abre para receber a comungação orgiástica do prazer de cavalgar num
galope frenético dos corpos abertos do gozo abundante até as raias do
delírio do orgasmo... A carne me fascina como a morte da exaustão...
Na mistura alucinante da combustão do prazer... Gozar até o infinito,
até que a realidade se transforme em miragem no arco-íris da
sedução... Só sensação de carnes expostas como num açougue para serem
apalpadas, manuseadas, tocadas e acarinhadas... Maculadas... Uma missa
de prazer onde os corpos se dão e se procuram na busca desesperada do
sexo sexual da penetração... Beijar a boca suculenta... O sangue
escorre dos lábios misturados à baba do balbucio... Tocar um peito e
mordê-lo até que a boca, os dentes, a língua e a saliva fiquem
repletas do gosto da pele... Rasgar a carne nos seus pontos mais
frágeis e sentir escorrer o gozo se misturando ao suor do prazer...
Não saber mais quem se é... Apenas sexo... Nada mais do que sexo como
se tivesse atingido a própria morte... Só sons... As palavras perderam
o sentido, o nexo, a realidade... arrancar das entranhas essa estranha
sensibilidade de mil facetas e possibilidades que se chama carne...
Sentir latejar as veias e as artérias nesse movimento descompassado de
roçar e grudar uma carne na outra... Sentir o calor invadir mesmo na
estação gélida de um inverno perdido... Ir até o limite ilimitado do
fundo do poço... Mergulhar no mar do prazer nesse imenso oceano que
faz com que nos percamos... Ser só sensação... Ser só excitação...
Carne por carne... Pele por pele... Gozo por gozo... Ser apenas sexo
latejando por entre as pernas, por entre as coxas que se abrem
gritando pela sensualidade... Onde as roupas que revestem a carne
sejam feitas apenas do gozo... banhadas de orgasmo... A carne melada,
pastosa, suarenta... Lambida e chupada... Selvagemente, suavemente...
Mas ininterruptamente... Desfalecer de prazer... Você inteiro ser só
carne... carne para comer e ser comida... Aos pedaços... Toda...
Inteira... Nas suas partes mais íntimas... Nas fezes... Na urina... na
menstruação... no vômito... No gozo... Na carne... Um açougue do
prazer composto de animais humanos só de instintos, só de desejos...
Bestializados... Expostos e abertos e entregues... Pedindo, gritando,
exigindo... Mais, sempre mais, sem seleções, sem elitismos, sem
conhecimentos... Até a morte máxima do próprio conhecimento completo
do que somos, isto é, nada, apenas carnes expostas para serem usadas e
manuseadas por outras carnes que também se expõem no açougue do
prazer... Sedutor... Fascinante... Excitante...