INGREDIENTES
uma pitada de açúcar
adoça o sangue da vingança
então não dói mais agora
do que quando eras criança
quando sabias chorar
e podias deitar fora
toda amarga lembrança
um dedo de vinho
dilui a peçonha da ira
à mesa consigo mesmo
percebes que a mesa gira
e não a podes parar
e se não a podes parar
tocas a vida a esmo
uma ponta de faca de boa manteiga
destrava a garganta tomada de mágoas
e a palavra retoma seu rumo
renasce a língua em fráguas
garbosa serpente
no costumeiro aprumo
verte seu soro na água
branca farinha e alguma levedura
incha o coração antes moribundo
que se refaz para novo abate
aqui não há necessidade de mundo
pois aqui se ama e aqui se aniquila
não há sangue inocente findo o combate
não há luz que chegue nesse presente profundo.