Drama da Periferia
Veja como está a situação/
Andando pela rua de seu bairro/
Procurava emprego João/
Por sua vez Maria/
De lavagem em lavagem/
Conseguia o feijão/
Mas a vida segue/
Se conheceram num bregão/
Em meio a tantas dificuldades/
Resolveram como muitos na cidade/
Juntarem os seus cacarecos/
Viviam dia após dias Maria e João/
João sem emprego/
Maria biscaiteira/
Sem muita educação/
Sem casa para morar/
Sem saúde para o povão/
Veio Priscila/
Maicon e Cristina/
A festa era sempre a mesma/
Muitos aniversários regados a cervejas/
Muitas reclamações/
Virava e mexia João batia em Maria/
Finalmente ele se empregou de cobrador/
Maria lavava/passava e ainda fazia limpeza/
Era uma verdadeira guerreira/
Logo o governo anunciou pela TV/
Que as palafitas do canal teriam que sair/
O povo se reuniu/
Vestiu camisa de candidato/
Vestiu cores de sensato/
Mas teve que sair dali/
Foram jogados para outra periferia/
Mas agora com moradia/
Priscila e Maicon já eram adolescentes/
Quando João vindo do trabalho/
Foi assaltado e mesmo sem reagir/
Os ladrões tiram a vida dele/
Maria viu a vida apertar/
Sua filha que todos os dias saia de casa para estudar/
Voltou a noitinha dizendo que estava grávida/
Enquanto Maicon começou a roubar/
Logo, logo o seu filho foi parar atrás das grades/
Sua filha teve a cria/
Enquanto assistia Cristina com sarampo e catapora/
Mas sempre pedia para Deus ajudar/
Mais dias menos dias/
Maria envelhecia/
Sua neta crescia/
As filhas começaram a trabalhar/
Num país cuja Democracia se anuncia/
Ainda dá pra viver esperando pelo novo dia/
Assim , Maria recebeu a noticia que o seu filho/
Ao participar de um motim/
Havia sido executado/
Marias e Marias seguiram olhando pela televisão/
Mais uma exibição/
Das eleições/
Que dizia ao povo/
Que o sistema queria mudanças/
Liberdade ainda que tardia/
Augusta neta de Maria/
Filha de Priscila/
Sobrinha de Cristina/
Agora na escola recebia uma bolsa/
E tudo o que faria/
Era querer ser guerreira como aquela lavadeira/
Que em cada amanhecer acredita/
Acredita mas não vê/
E a gente só precisa de educação/
Para que amanhã se possa ser alguma coisa diferente/
De esquecidos/