DIAS E TEMPOS IV
Um dia aparentemente qualquer,
igual a tantos outros...
A gente se levanta disposto,
se espreguiça
e ele está lá...
Igual mas diferente.
Aquele dia que, sonolento,
desceu da cama pelo lado errado
e tropeçou no tapete...
Dia aziago,
que jamais deveria acordar!
Abre-se a janela e a luz que entra
clareia-nos motivos:
porque se está sozinho,
esvaziado ou econômico,
singular em idéias,
único em medos,
raro em sentimentos,
pesado de incertezas,
contaminado de angústia,
atacado pela virose da indiferença,
perplexo de indecisão,
atônito com uma grosseria,
crônico de tédio,
doente de abandono,
nu diante de si,
vestido de incômodo nada...
Medíocre!
De quem esperar uma palavra, ainda que dúbia?
De quem um olhar, ainda que pouco estimulante?
De quem a divisão de um instante, apesar de apressado?
De quem pretender um toque, embora tímido?
De quem qualquer coisa?
De quem?
[os tempos observam-nos desconfiados... erramos entre clarores e sombras...]
De quem que não se tema contaminar?
De quem que de si saiba nem se deixar enganar?
Edificação. Abismo e Absurdo.
Um mergulho no acaso dos dias com a sempre mesma data.
fotografia: Mariah
Conheçam também:
Dias e Tempos I
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/583490
Dias e Tempos II
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/591648
Dias e Tempos III
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/614457