GIRASSÓIS
Os girassóis florescem na estrada do sol,
num lugar chamado ninguém,
num lugar chamado nenhum lugar...
O coração do homem germina à margem da vida...
O ciclo nunca para, nunca cessa...
Ciclo contínuo de nascer e renascer;
ciclo constante de frutificar e desenvolver...
O ciclo do homem é de perecer...
Destino que voa, que galopa
a nenhum lugar chamado nada...
O silêncio, a penumbra, o vazio
seca e suja o vendaval da alma...
Os homens são paredes concretas
sem olhos, sem ouvidos, sem coração...
Os homens são feitos de bocas
molhadas e falantes de não emoção...
E, no entanto, os girassóis germinam...
Não estancam, nunca secam...
Sempre na estrada do sol
num lugar onde o nome é sem nome...
A felicidade caminha junta,
anda paralela, grudada...
Como no ciclo divino do amor,
como no ciclo humano do desamor...
E o destino te joga na pedra
tão mais complexa de ser
do que o homem que quer ter
a primordial capacidade do saber...
Na pedra jorra o sangue
da vida humana esquecida
pelas lembranças do passado,
pelas previsões do futuro...
A nenhum lugar chamado nenhum...
Eis o caminho a ser percorrido...
A nenhum lugar do passado,
a nenhum lugar do futuro...
Os girassóis crescem hoje, agora...
É vivo na vida do presente...
Nem ontem nem amanhã,
mas vitalmente, potencialmente já...
Que o vendaval da alma
derrube a parede endurecida
do homem, da carne, do ser...
O rio corre... O homem se afoga...