Exercício do pouco real
A fumaça que se adensa
E se dilui diante de olhos
Muito plausíveis é dança
Ostensiva e pueril da impossibilidade, 'seu Luís'.
É mistério de fumaça
Que me desfruta e agride
Em coordenadas de pedra
Riscando em pedra, fazendo fogo!
(Antes do homem-médio,
O primeiro agricultor despeja, num gesto relativo,
O primeiro gole d'água
No primeiro pé-de-planta, e instaura o mito)
É engrenagem de ferro que rói a pedra fundamental
Do mais fundo átrio de meu isqueiro e... 'Fiat Lux'!
Um cigarro palerma,
Penso entre 2 dedos.
Este bruto inaugural, hermafrodita de mil sexos,
Atravessa, como um facho de morte,
As costas curvilíneas de minha avó
Acocorada, sem metafísicas, num roçado de tabaco.
E um avô de fumaças e mandíbulas,
Mascando, mascando, cuspindo;
Metendo tendências malignas
Em um sangue que eu, existindo, havia de partilhar.
Dissolvo-me pouco a pouco
Mas não me aniquilo no peito aberto
Das mulheres da casa
Sou uma partícula de luz, 'lucciole'
Entre tangerinas e papilas
Muita água me escorre
E lava de remotas impurezas
Que me fixam nos móveis, nos ângulos mais penumbrosos.
Conquanto não seja
O último vaga-lume intermitente
Em janelas e varandas suburbanas
Um certo 'Luís da Silva'
Vindo do sertão sem fundo,
Vereda de folclore e fome...
Mais para o norte, mais para o norte!
Agora desvende, 'seu Luisinho', essa arquitetura de medo.
Julião Tavares está morto
Enganchado em uma goiabeira de beira
De estrada, mas a peça de corda continua no bolso
De seu terno cinza, 'seu Luís'.
Isso faz do senhor, de mim, de qualquer um,
Um problema universal, meu tio:
Filho torto de Dionísio, cigarro entre lábios,
Andante em estrada apolínea.