Exercício do pouco real

A fumaça que se adensa

E se dilui diante de olhos

Muito plausíveis é dança

Ostensiva e pueril da impossibilidade, 'seu Luís'.

É mistério de fumaça

Que me desfruta e agride

Em coordenadas de pedra

Riscando em pedra, fazendo fogo!

(Antes do homem-médio,

O primeiro agricultor despeja, num gesto relativo,

O primeiro gole d'água

No primeiro pé-de-planta, e instaura o mito)

É engrenagem de ferro que rói a pedra fundamental

Do mais fundo átrio de meu isqueiro e... 'Fiat Lux'!

Um cigarro palerma,

Penso entre 2 dedos.

Este bruto inaugural, hermafrodita de mil sexos,

Atravessa, como um facho de morte,

As costas curvilíneas de minha avó

Acocorada, sem metafísicas, num roçado de tabaco.

E um avô de fumaças e mandíbulas,

Mascando, mascando, cuspindo;

Metendo tendências malignas

Em um sangue que eu, existindo, havia de partilhar.

Dissolvo-me pouco a pouco

Mas não me aniquilo no peito aberto

Das mulheres da casa

Sou uma partícula de luz, 'lucciole'

Entre tangerinas e papilas

Muita água me escorre

E lava de remotas impurezas

Que me fixam nos móveis, nos ângulos mais penumbrosos.

Conquanto não seja

O último vaga-lume intermitente

Em janelas e varandas suburbanas

Um certo 'Luís da Silva'

Vindo do sertão sem fundo,

Vereda de folclore e fome...

Mais para o norte, mais para o norte!

Agora desvende, 'seu Luisinho', essa arquitetura de medo.

Julião Tavares está morto

Enganchado em uma goiabeira de beira

De estrada, mas a peça de corda continua no bolso

De seu terno cinza, 'seu Luís'.

Isso faz do senhor, de mim, de qualquer um,

Um problema universal, meu tio:

Filho torto de Dionísio, cigarro entre lábios,

Andante em estrada apolínea.

Welliton Oliveira
Enviado por Welliton Oliveira em 15/09/2014
Reeditado em 16/09/2014
Código do texto: T4962793
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