CASA

e no meu corpo

a necessidade extrema

de que, lá, na minha cidade natal,

nada tenha mudado.

de que as crianças que eram

crianças quando eu era criança

continuem criança.

[será que criança vem de cria?

como esperança de espera?]

aquela necessidade

de que algum lugar no mundo

seja a minha Casa.

um chão, não movediço como a realidade,

mas um quadro estático

sobre uma parede estática,

em uma casa de portas abertas.

aqueles que me deram origem,

aquilo de onde eu vim.

lá no fundo do pensamento,

e com boa carga de desejo,

não quero que mude...

as idades, as paisagens,

as cores, as cidades,

os lugares, as brincadeiras...

o risco de gesso que rasga e marca o chão!

será, porém, então,

esse risco tão forte,

mera poeira branca sobre o asfalto?

uma poeira que, exceto pela cor,

é uma poeira qualquer?

como aquelas

que são levadas pelo vento?...