ESPERA

A cadela se prepara...

Hoje é o dia! Dia onde os dois lados do céu se encontram!

Na expectativa fico!

Aguardo, rezo, rogo por sua presença.

Não sei se vens, não sei se vais me querer,

não sei se serei útil,

não sei se serei o objeto do teu prazer...

Calo-me, silencio-me e aguardo.

Não sei o que me aguarda no dia de hoje.

Curvo-me as tuas vontades como se fossem minhas,

E, na verdade, o são!

Os minutos se passam...

Como em um mosteiro, calo-me!

Ouço apenas os santos gritarem o teu nome!

Milagre! Vejo-te!

Entras sorrateira a espera que eu cometa um deslize.

Me seguro, me amarro... suspendo a respiração.

Esperei tanto tempo por esse dia, por esse encontro!

Minha emoção não permite que eu fale. E eu calo!

Calo por fora o que por dentro eu berro!

Teu nome, tua presença, tua atenção.

És cruel, perversa, fria... fere-me com tua presença na saudade que me tornas.

Me toma humilhantemente me jogando na cara que sou tua!

Teu objeto escroto e cadela desvairada pronta a servir-te!

Coloca-me pregadores na língua para que eu babe para ti!

E eu babo com a boca aberta e dolorida!

Amarrada, com as mãos para trás, sem poder manifestar meu impudor!

Fico excitada em estares aqui, perscrutando a minha dor!

Ela atravessa o oceano para quedar-se a ti!

Minha baba escorre, pestilenta, bolorenta...

Escorre pelo queixo, pelo pescoço...

Molha meus bicos que se arrepiam de tanta imundície!

Delícia! estou servindo-te!

Obrigada, obrigada pela atenção, tento dizer!

Mas não consigo... a fala não me sai!

Apenas o cheiro da saliva escorrendo e inundando minha imaginação.

Eu cheiro mal! Mas esse cheiro é o cheiro que ofereço a ti,

porque o cheiro real da abnegação do limite que estou ultrapassando

para que fiques comigo!

Imagine uma cadela suspirando... Uma cadela com olhos baços depois do chute...

uma cadela pedinte e caída,

uma cadela sem pudor e sem vergonha...

Latindo, balbuciando o nome da sua dona... tentando se aproximar...

Desculpe pela baba que escorre,

ela trava o meu latido!

Mas me aproxima de ti!

Seja que caminho for, atalho, esquina, botequim...

A cada um deles beberei a profanação,

beberei o sangue e o gozo que jorra da cloaca.

Derramarei teu escárnio no meu corpo,

me ungirei com a tua indiferença e gozarei com a tua presença...

Mendigando, pedindo, me entregando a quem escolhi.

Sem vergonha sim, mas eu! una e digna para ti!

Cadela, vadia, puta, insana, lúcida...

Eu! mulher e animal copulando na orgia da consciência!

ofereço-me a ti na hecatombe da tua vontade!

E minha baba não será mais suja e fedorenta!

Apenas uma baba da cadela que é tua!

carline
Enviado por carline em 10/09/2014
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