PARTO

Eu hoje gerei a solidão

em forma de uma criança chamada tristeza...

Eu a pari com ternura

e ela me presenteou com a dor...

Carreguei-a nas entranhas

e sussurrei palavras singelas

que a fizesse adormecer

e acalentasse os seus sonhos...

E a criança quieta

foi crescendo e absorvendo

os tormentos da minha alma

e descosturando a teia da razão...

Pari na eternidade

a criança da dor

que escorre suas lágrimas

no batismo da redenção...

Ela cresceu nos pregos

entalados na garganta da cruz

e hoje reza aos céus

sua estadia nos infernos...

A criança gerada

na angústia da trilha

buscadora de si

e andarilha do outro...

Mendiga do perdão

amante da punição

concubina do coração

e prostituta da emoção...

A criança anda pelos labirintos

calcando suas entregas

pelos caminhos do calvário

que respiram seus espinhos...

E ela se infla de escárnio

e faz amor com a frieza

da aspereza da saudade

que a pisoteia nas tempestades...

Pobre criança faminta!

Sua busca não tem fim!

Gerada na pestilência do acalanto

e mergulhada na orgia da fragância...

Hoje encontra-se só

nomeio do vendaval...

Nascida da solidão

no parto da ternura...

carline
Enviado por carline em 09/09/2014
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